20 de julho de 2007

Conflito de gerações

A minha mãe adora farofa, mas come um tiquinho só, coloca no canto do prato e mela a garfada como se melasse com pimenta. Eu também adoro farofa, mas para mim ela precisa de uma quantidade proporcional ao banquete, encho e como com gosto. Eu digo isso para a minha mãe sempre, mas é em vão: toda vez que ela prepara um prato ou uma quentinha para mim, a farofa vem num cantinho quase imperceptível, que não dá para nada.
Não tem jeito. Tem coisas que a mãe da gente não entende.

9 de julho de 2007

Kinsey

Vô,
talvez você não saiba, mas sou uma pessoa bem chata quando o assunto é filme. Eu quase nunca gosto muito de um, quase sempre acho que perdi tempo. Não consigo bem encarar esta arte como entretenimento, não vejo nada de divertido naquele ritual de ir para o cinema, como se fosse uma opção de programa como outra qualquer. Bem, talvez eu seja mais do que chata, talvez isto soe pedante, talvez eu seja caxias demais com algo que nem exigiria postura alguma, sei lá. O fato é que filme tem que me dizer alguma coisa, tem que falar comigo e me emocionar de alguma maneira. Já viu? Sou exigente. E autoritária. Estou brincando: este é apenas meu modo de ver, eu só gosto do que eu gosto e pronto. E, deste jeito, para estes raras obras que me tomam, eu dedico um amor profundo.
Eu vim lhe falar isso por um motivo simples: preciso que o senhor me liste todos os filmes que te causaram espanto, ojeriza e desgosto. Não, não quero aqueles que você não gostou porque são ingostáveis mesmo, os idiotas que tratamos com indiferença - quero saber exatamente os que não foram indiferentes, os que mexeram de verdade com sua antipatia. O motivo disso? Vou explicar: toda vez que fui assistir a um filme que lhe causou repulsa, eu fiquei apaixonada. Estou encantada. O fato de o senhor ser crítico de cinema não confunde o fato de que temos idéias completamente opostas. E, tendo esta sua lista em mãos, certamente vou me esbaldar até lamber os beiços.
A propósito, agradeço por ter me indicado Kinsey deste seu jeito tão peculiar. Que filme belíssimo!
Um beijo,
sua neta.


[Mais um texto tirado do baú, escrito em novembro de 2005.]