Hoje eu me emocionei lendo o Caderno Dez!, aquele semanal que sai às terças-feiras no nosso jornal A Tarde – o maior e mais respeitado impresso do estado (o que, apesar da pouca concorrência e das condições do jornalismo baiano, não é pouca coisa).
O A Tarde faz parte de minha vida desde sempre, não apenas pelo fato citado acima, mas também porque cresci com um avô que trabalhava no veículo e que passeava com freqüência altíssima trajando com orgulho camisas e bonés com o boneco do negrinho jornaleiro que exibia um exemplar em mãos (alguém mais, além de mim, lembra desta imagem?). "Meu avô trabalha no jornal", eu tinha um orgulho natural daquilo, como se fosse uma predisposição genética – ou predestinação – ter nascido neta de quem podia escrever pra um bocado de gente ler. Mas não se trata disso. Vamos lá.
O Caderno Dez! é o apêndice adolescente do A Tarde. Para não me confessar adolescente-tardia assim às claras, já que sou viciada e leio toda semana, me ponho a acrescentar que é um produto que extrapola as questões que estampam as capas de revistas voltadas a este público – não me lembro de tê-los visto gastar espaço com as síndromes clichês que costumam ser discutidas retardadamente por aí. Sem histeria, sem dicas de maquiagem, sem fixações. Ok, às vezes eles dão umas escorregadas chatas, mas isso acontece com quem tenta acertar.
Aos poucos, eu fui reconhecendo o estilo e o posicionamento dos que nele escrevem – ou escreviam – e construindo com eles minhas discussões – porque é claro que eu fazia meus diálogos. Entre estas pessoas, gente com quem me cruzei posteriormente nos rumos que a vida toma – Nadja Vladi, que respondia pela editoria do caderno (e que saiu agora para assumir o comando da revista Muito, também do A Tarde), foi minha professora na faculdade; Luciano Matos já riu de mim mil vezes, que eu vi; Chico Castro até me escreveu e-mail (que, aliás, eu guardo com carinho danado) elogiando meu trabalho. Já com Ricardo Cury, que virou colunista há pouco, eu me cruzei anteriormente – de um jeito que me dá uma ponta de orgulho parecida com a que sentia em relação ao vovô, porque acho massa ele também estar escrevendo cada vez mais pra um bocado de gente ler. Aliás, cabe dizer, foi Cury quem me despertou o olhar para o Dez!. Eu conhecia, futucava vez ou outra, mas foi ele quem, há um tempão (quando, penso, ele nem sonhava em entrar para a equipe), me disse assim: “Eu compro o A Tarde só nas terças-feiras, para ler o Dez!”. Fiquei curiosa, né? Fiquei. Mas também não se trata disso. Vamos lá.
Eu estava no Beatles Social Club especial de fim de ano, lá pelos últimos dias de 2007. Sendo um evento comemorativo, saiu dos limites da Companhia da Pizza, que o produz, e tomou a Praça Brigadeiro Faria Rocha e as ruas ao redor, no Rio Vermelho. O palco armado receberia uma grade de atrações extensa. Não vou lembrar agora a lista dos artistas que se apresentaram, tampouco a dos que estavam previstos para se apresentar e não o fizeram – é que o burburinho foi interrompido no meio pela polícia, que chegou lá e acabou com a festa.
Mas eu lembro, isso eu lembro, que Glauber ia cantar. Lembro porque a presença dele estava causando expectativa. Lembro porque a minha memória mais antiga de um show de rock, onde fui parar meio por acaso quando eu tinha, sei lá, uns quinze anos, é do Dead Billies enlouquecendo todo mundo. Lembro porque eu nunca esqueci daquela cena, da performance, do cenário daquela noite. Lembro porque eu disse “gente, que cantor fantástico!” e porque o reconheci para sempre, toda vez que o vi – andando por aí e em cima dos palcos, mesmo muito tempo depois.
Estava todo mundo querendo ver Glauber e Glauber não cantou. A polícia chegou no momento exato. Ficou todo mundo puto.
- Oi, Cordemel!
- Ahn?
- Tudo bem, Cordemel?
- Tudo...
- Sim, eu te conheço. Fábio Cascadura fala muito bem de você e te vejo pelo fotolog vez ou outra. Muito prazer, Cordemel!
- Sim, eu também te conheço! E me é uma honra ser reconhecida por você. Muito prazer, Glauber.
E a gente conversou pra cacete. Voltei para casa com um link e o e-mail dele anotados.
Glauber,
Já baixei todas as músicas. Adorei!
Tralalá, tralalá. Escrevi babando o ovo. Eu apaixonei por algumas faixas assim, na primeira ouvida. Confesso que, no primeiro instante, eu me assustei com o que ouvi: “Oxe, é Glauber fazendo isso? E é???”. Mas durou meio segundo e desconstruí e fiquei amarradona e repeti mil vezes e decorei letras e espalhei a notícia.
Hoje, o Caderno Dez! anunciava em um dos destaques de capa: “Teclas Pretas é o novo projeto de Glauber Guimarães”. E dentro, lá na página 7, na matéria intitulada “O artista se reinventa”, Chicão Castro foi detonador. Foi sensacional. Foi um jornalista da porra! Ele colocou assumidamente na gaveta a pretensa e mítica objetividade jornalística e disse, com todas as letras, que era incapaz de se segurar. Deixou que todo mundo visse sua absoluta parcialidade em associar Glauber à obrigação de fazer elogios. Deu para ver a cara de vibração e para ouvir algo como “putaquepariu, esse cara é foda!”. E, deste jeito cheio de subjetividade, usando adjetivações tão conotativas quanto “incrível”, ele conseguiu informar de forma certeira o que é o Teclas Pretas – e deixou claro o que a paixão pela música, pela história do rock na Bahia e pelo compromisso com a honestidade é capaz de fazer com um profissional do tal 4º poder.
Então, como eu disse, hoje eu me emocionei lendo o Caderno Dez!.
Por poder testemunhar isso, por conhecer estes caras, por haver coisas boas para aplaudir.
Leia AQUI o citado texto de Chico Castro, "O artista se reinventa", Coluna Coletânea - Caderno Dez! - Jornal A Tarde, terça-feira, 20 de janeiro de 2009.
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