30 de junho de 2008

Recorrente

Mais uma vez, me perguntaram se eu me apaixono.
A pergunta sempre vem simples e direta, em uma forma curiosa de quem parece estar tentando entender um comportamento desconhecido:
- Paula, você se apaixona?
Pronto, é assim.
Minha reação sempre é de espanto, por mais que eu já devesse estar acostumada. Às vezes, eu acho que a pessoa está querendo me testar. Às vezes, eu acho que é piada. Por fim, sou convencida de que é uma dúvida honesta e me vejo intimada (na verdade, mais por mim mesma do que pelo outro) a dar uma resposta em tom de discurso. E solto um texto rasgado... apaixonado.
- Paula, você se apaixona?
- Sim, eu me apaixono. Droga, merda, eu me apaixono, caralho!, que maluquice é essa?

[Só espero não me apaixonar mais uma vez justamente por quem me questiona isso.]




Já escrevi sobre esta pergunta aqui também.
Ai, ai.

24 de junho de 2008

Half a Person

Ou Back To The Old House
Ou Girl Afraid
Ou Heaven Knows I'm Miserable Now
Ou I Keep Mine Hidden
Ou These Things Take Time
Ou I Know It's Over
Ou Is It Really So Strange
Ou I Started Something I Couldn't Finish
Ou I Want The One I Can't Have
Ou Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me
Ou What Difference Does It Make?
Ou Please, Please, Please, Let Me Get What I Want
Ou You Just Haven't Earned It Yet, Baby

(Qualquer título deles parece caber agora.)

Os Smiths, a voz de Morrissey e a batidinha rítmica típica das músicas deles me lembram um tempo bom. Um tempo em que eu sorria sem tentar traduzir o que sentia. Eu simplesmente vivia e era feliz. Era livre, desprendida e leve. Tinha o mundo inteiro para experimentar, acreditava que as coisas existiam todas para mim, à minha disposição. Eu me jogava, mergulhava e tudo parecia dar certo. Eu tinha um prazer enorme em passar por cada segundo, em descobrir, em investir. Eu me lembro de muitos sorrisos, de uma satisfação íntima infantil. Eu gostava até de sofrer, porque me sentia mais forte quando passava. Eu era assim cheia de esperanças, não me escondia atrás de convicções e consciências castradoras. Meus medos eram mais motivadores do que concretos e alertas. Eu encarava as coisas com a firmeza de quem ama mais do que pensa. Eu amava mais e pensava menos.

Os Smiths ontem me esfregaram na cara as minhas incompetências. E doeu ouvir a trilha sonora do passado ser tocada numa situação tão drasticamente oposta às minhas memórias.



Tudo isto me lembrou este texto de Alex: Fantasmas de Felicidades Passadas. Recomendo!

9 de junho de 2008

Eu sou ego

Tenho uma bolsa Diesel, comprada na 25 de Março. Nunca sei ao certo se estas coisas vendidas em São Paulo a preço de banana são falsificadas ou contrabandeadas – mas, sem dúvida, estou carregando produto de algum comércio, digamos, impróprio. A bolsa é bonita e utilitária, e me foi dada por Cecília, quando ela me viu carregar por aí, de modo inadequado, o laptop em que agora escrevo este texto. “Tenho solução para você, uma bolsa legal que comprei em Sampa, vai servir direitinho” – e me repassou o que era dela. Cecília tem dessas, Cecília é assim: disponível, desprendida.

Em nossa mais recente viagem em família, mais uma cena de café da manhã em que eu me juntava aos retardatários, ela questionava: “quer um suco?, quer que eu frite um ovo?”. Alguém comentou: “Cecília é tão cuidadosa, é tão bonito isso”. Ela sorriu, eu sorri, nada mais se falou. Creio que, para ela, isto é tão natural que talvez nem merecesse elogio, então só sorriu. Para mim, esta sua atitude é um mérito que nem sei nomear, então só sorri. Eu tendo ao individual, ao independente, ao cada um se vira no seu canto. Não sou boa integrante de grupos. Do lado de Cecília, a minha consciência sobre a minha inabilidade com o que é coletivo, atencioso, cuidadoso e amparado se evidencia.

Uma vez, numa conversa entre nós duas, Cecília questionou a razão de eu afirmar que era incapaz de me ver mãe. Eu já tinha antes, em outras muitas oportunidades, falado de minha opção de não ter filhos – opção que não é de sempre, que se confirmou em mim não tem muito tempo, mas que também não me atrevo a colocar como definitiva, porque conheço a inconstância de minhas vontades –, e isto nunca lhe foi surpreendente. Ouvir que eu me sentia incapaz, no entanto, lhe causou curiosidade: por quê? “Porque, Cecília, eu não sou solidária o suficiente”. Não me vejo abrindo mão de meus segundos, desejos, liberdade e noites bem dormidas para ser uma boa mãe como ela é. Eu saberia ter sempre de pensar numa segunda pessoa? Não consigo conceber dividir o foco de minha vida entre meu umbigo e outro ser dependente de mim. Sim, eu sou egoísta, sedenta, não sei não me ter como centro do que escolho, faço, tenho como válido, importante, ético. Será que me passaria pela cabeça oferecer uma bolsa minha, de que gosto, assim? – tome, leve, é sua!

Outro dia, Renata veio se arrumar em minha casa. Deixei o armário aberto para que ela escolhesse o que quisesse. Qualquer coisa. Cecília já fez isso comigo inúmeras vezes. Eu nunca tinha feito com ninguém. Não foi um esforço, não foi pensado: eu simplesmente me vi disponibilizar para Renata tudo que tenho. Ela escolheu um vestido, um colar e a bolsa da Diesel (que eu nunca usei para nada senão para carregar o laptop, a gente às vezes rotula as coisas sem nem pensar). Ficou linda e eu fiquei feliz de ela ter ficado linda. No meio da noite, eu tomei uma decisão motivada por algum comentário que ela fez sobre o colar:
- Fique com ele pra você, Marida.
- Sério? Você não usa? Não gosta dele?
- Uso e gosto, mas você também está usando e gostando, fique pra você.

Ver Renata satisfeita com o presente me fez bem.
Sou mesmo egoísta ao extremo.



Texto escrito na madrugada de ontem para hoje, durante um dos meus momentos auto-analistas. Não revisei, não ajustei, nem incluí o final que eu pretendia fazer depois. Só adiciono, agora, a afirmação de que se eu já te dei algo que era meu, se você já me fez parecer não ser egoísta, é porque te amo muito, mais do que está sob meu controle.