31 de outubro de 2007

“Porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim”

Uma vez, escreveu para repetir - e falar pela primeira vez algumas coisas também - que sentiria saudades, que adorou tê-lo conhecido, que se divertiu muito, que vai ser bom contar a história para os netos, que o playground do seu prédio não seria mais o mesmo, que encontrar gente que nem ele é raro, que era bom beijá-lo até com gosto de cachorro-quente, que ele foi muito legal em entender o seu mau-humor temporário, que foi bacana falar pelos cotovelos e contar tantas histórias enormes (e que se sentiu acolhida e confortável a ponto de fazer confissões íntimas que não costuma anunciar por aí), que gosta das coisas que ele conseguiu dizer em meio a seus monólogos e que elas estarão confidencialmente guardadas, que tentou fugir daquele encontro com início, meio e fim programados, mas que não conseguiu, que teve vontade de bater nele por ele não tê-la deixado quieta no seu canto, que teria tido ainda mais vontade de bater nele se ele a tivesse deixado quieta no seu canto, que foi bom dançar com ele, beber com ele, fazer farra com ele, que a lista do que admira nele é longa, excessivamente longa, que era meio doido estar então no papel do terceiro elemento e ter noção do espaço que podia ter em sua vida (e que achava que a esposa dele é uma mulher de sorte), que adorava suas ligações carinhosas e adorava mais ainda os elogios que ele fazia, que ficava rindo feliz das aventuras adolescentes, que transar com ele era delicioso, ainda que não tivessem deitado juntos numa cama, que foi bonitinho ele testemunhar o momento mulherzinha dela diante de uma barata, que lhe viam à cabeça algumas frases bastante piegas, que o desejava o melhor desta vida e que gostava dele de verdade.
E disse:
“Boa viagem, boa volta, boa vida, se cuida.”

(Título roubado de Drummond.)

3 comentários:

  1. minha boca ficou assim ó
    :O

    que coisa mais fantástica... natural... empática!

    Adorei.
    Beijos!

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  2. Meu Deus...estava procurando esse poema do Drummond para (talvez, quem sabe?) escrever para um alguém que se foi e que tem me feito uma falta muito dolorosa, e o Google me trouxe ao seu blog...Você conseguiu colocar em palavras EXATAMENTE tudo que estou sentindo nesse momento. Espero que você não se incomode, mas 'roubei' seu texto e o coloquei em um lugar que, talvez, quem sabe, ele leia...Obrigada!

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    1. oi, anônimo, que bacana, tomara que seja bom para vocês.

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