4 de maio de 2008

Do teu quarto, da cozinha, da sala de estar

Estou deitada na rede. Aqui, tranqüila, sem tempo, nem companhia, sem nem razão, eu, a rede naquele mexido suave (porque ela nunca fica totalmente parada), a varanda, as pessoas nos apartamentos vizinhos, o céu com nuvens grandes. Há muito tempo não fazia isso.

O laptop está no meu colo, sobre um travesseiro, para evitar que eu sinta tanto o calor que ele provoca. Estou zanzando pela vida, escrevendo e lendo, conversando e ouvindo música - além do som da rua, que me é meio estranho, esta coisa de passar carro em velocidade um atrás do outro, este barulho que, do meu quarto, eu não ouço nem de longe. Isto eu nunca havia feito: isto de deitar na rede com um computador. E isto de eu me dar conta de que os ruídos da madrugada da casa de meu pai são muito diferentes daqueles que meus ouvidos nem me avisam mais quando escutam.

Está ventando. Esta frase eu não dizia há meses. E a última vez que disse não foi em Salvador. Ainda tusso. Às vezes começo a me zangar com a tosse e me lembro da quinta-feira.

[Como a quinta chegou: de repente, foi despertada no fim de semana de excessos e de faltas. Segunda foi um dia pesado. Terça foi um dia corrido; à noite, em pouquíssimos minutos, "Baby, me leva pra casa, me bateu um cansaço repentino, e absurdo", dormi antes da meia-noite. Acordei, quarta, baqueada, fingi que não, trabalho e, ah, deixa só cá ver: 38,8º - durmo, morta, só acordo para dormir de novo.]

Quinta-feira:
- Topa almoçar com a gente?
- Talvez...
- Já está acordada??
- Não sei...
- Paula, está tudo bem com você?
- Não.
- Que foi?
- Minha garganta. Crise igual àquelas que eu tinha quando criança. Fechou.
- Se arrume, vamos chegar em vinte minutos.

Não me lembrava do quanto doía. Do quanto derruba, cansa, agonia. Uma irritação louca me transforma num misto de mau-humor e dengo, choro e reclamação. E me encolho triste, com frio e calor, com muito frio e com muito calor, arrepiada e suada. Inquieta. Sem voz, a boca que mal abre, comida que não desce, não atendo ninguém, não quero ver ninguém, não falem comigo não.

Há muito tempo eu não via a cara de pena do médico da família - acho lindo termos "o médico da família", somos a única família que conheço que tem "o médico da família": xiiiiiiii!

Doze horas seguindo as orientações de São Jorge Sá, estava eu fazendo piada e comendo pão. A vida pós-cura é de uma felicidade atentatória.


Isto era para continuar, mas desisto. Adio, pelo menos. Primeiro porque fiquei com preguiça. Segundo porque estava ficando um saco.

UPDATE (na madruga de 5 de maio, já em casa):
Desisti mesmo. Mas o que eu ia dizer, no fim das contas, posso resumir - o feriadão foi ótimo, lindo, e, ao contrário do que se costuma dizer, as boas memórias podem sim ser mais fortes que as ruins. Teve dor, foi? Nem lembro direito.

4 comentários:

  1. A tua chatice é tão boa...

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  2. "é melhor ser alegre que ser triste" já disse o bom e sábio Vinicius. muito melhor "deixar" apagar as coisas chatas e ir levando a vida na valsa. bailando conforme a música e torcendo para que ela seja uma música alegre ou uma dos beatles ou ambas.
    bj

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  3. fim de semana bom é qdo tem visita inesperada.

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  4. Tem desvio sim... Enfim, consegui uma confissão!

    Beijo!

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