18 de maio de 2007

Maioridade

Alex propôs o desafio já há um tempo, eu lembro de ter achado interessante, mas nada escrevi. Hoje, ele me mostrou o texto de novo e eu decidi fazer a viagem no tempo...

COMO FORAM OS MEUS 18 ANOS

Tenho boa memória, lembro de histórias com detalhes assustadores, sei reconstruir tudo de todas as coisas, mas não me veio à mente, de imediato, casos específicos ocorridos nesta idade. Mas tenho uma ferramenta que fui buscar no baú. Pois sim, fato número 1: aos 18, eu fazia diário. E ele está guardado, intacto, até hoje, junto com muitos outros.

Abro a capa e me deparo, de cara, com um adesivo. "Juventude é Lula Presidente, o Brasil para todas as tribos". Àquela época, eu realmente achava que Lula mudaria o mundo. Votei com fé.

O ano era 1999.

Acordei no dia 26 de abril na maioridade. Lembro de ter achado isso muito interessante. Fui de manhã cedo para a primeira aula de um curso básico de computação. Eu estava em férias de um semestre inteiro. Havia sido aprovada no vestibular, no início do ano, para o curso de Psicologia, na Ufba. Mas passei para o segundo semestre e fiquei seis meses inventando o que fazer. Esta foi uma das coisas mais legais de minha vida. Férias, férias, seis meses de férias.

Passei a tarde do meu aniversário em um salão. Usava cabelo comprido desde sempre e fiz um corte radical. Curto, com mechas vermelhas e cor-de-mel. Estava magérrima. Aquele corpinho eu nunca mais vi, mas o corte ficou até hoje. Desde então, meu cabelo nunca mais passou dos ombros. À noite, teve um jantar para amigos na casa do meu pai. Aparecer uma drag queen em uma festa para fazer piada da cara do aniversariante era coisa super nova, e eu achei o máximo quando a perua surgiu do nada.

Quatro dias depois, ganhei meu primeiro celular: um tijolão que tinha sido de minha mãe. Aquilo era uma arma. E, já em 99, era ultrapassadíssimo, passei muita vergonha por causa dele.

[São João aos 18, em Senhor do Bonfim. Com Nanda prima, Verônica e Nanda Sarno.]

Eu namorava. Namorava desde os 16. Era apaixonadinha. Tem um milhão de corações espalhados na agenda. Eu usava aparelho. Aparelho transparente. Não percebo muita diferença entre o antes e o depois, mas meu pai, dentista, achou que era bom eu usar. Topei, mas tinha de ser transparente, porque não queria boca de lata.

No dia 8 de junho, vivi pela primeira vez a morte de uma pessoa próxima. Meu avô paterno faleceu. Foi tudo muito triste, mas minha família por parte de pai tem uma alegria tão legal que, depois do sepultamento, fomos todos ficar juntos lá em casa - todos os tios, primos, amigos próximos, sem deixar a dor ser maior que o amor. Ficamos dois dias seguidos assim.

Ganhava mesada e tinha de viver com o que ela dava. Eu fazia curso de teatro, fiz por muito tempo. Nunca pretendi ser atriz, mas me divertia bastante com aquilo. Larguei o hobby aos 18 mesmo. Tirei a carteira de motorista. Fiz um curso de formação em massoterapia. Fiz um curso de respiração. Fiz também um de formação para ser professora de Inglês. Fui atacada e mordida por dois cachorros de uma vez. Conheci Paulo Afonso, a cidade onde meu pai nasceu. Ele levou os quatro filhos para verem cada cantinho de sua infância. Eu achei tudo um saco, eu era ainda mais mal-humorada do que sou hoje em dia.

As minhas aulas de Psicologia começaram em 9 de agosto. Eu amava algumas disciplinas, detestava outras e nunca consegui chegar no primeiro horário. Estar às sete da manhã dentro de uma sala de aula já era problema aos 18. Albergaria, meu professor de antropologia, me abriu os olhos para um monte de realidades. Ele é um símbolo deste momento. O primeiro semestre do curso foi revolucionário. Cresci em seis meses o que não havia crescido em 18 anos. Conheci amigos especiais; questionei coisas importantes. As consequências não demoraram a surgir. Comecei um termina-e-volta com o namorado. Descobri lugares e pessoas e livros e teorias. Fui enlouquecendo em diversos sentidos.

No dia 23 de dezembro de 99, assisti ao meu primeiro show dos Los Hermanos. Num lugar chamado Manatee, que era breguérrimo, para pouquíssimas pessoas. Aliás, até que estava cheio, mas, depois de a banda tocar Anna Julia, todos correram para o espaço da boate. E eu fiquei, grudada no palco baixinho, que deixava a banda quase à altura do público, com uns gatos pingados, cantando todas as músicas de trás para frente. Foi lindo. O amor pela banda não morreu aos 18, acho que não vai morrer nunca.

Foi também aos 18 que fui pela primeira vez ao Calypso, o refúgio mais clássico do rock em Salvador. E fui mais e muito mais vezes depois, sempre com amigas que queriam me botar no mau caminho. Eu fazia farra pra caramba, um monte de doideiras. Não tanto quanto hoje, mas fazia. Festa particular à noite na praia, viagens de galera (a de Morro de São Paulo com duas amigas lindas foi inesquecível), shows sem fim, muitas madrugadas, muitas cervejas, carnaval... Ia para cima e para baixo, toda independente, não contava caso para nada. Pegava meu buzu e lá ia eu. Só que era uma menina muito bem-comportada. Mesmo. No drugs, beijo em uma boca só (só abri exceção no carnaval, sou baiana, ora bolas), várias notas 10 na faculdade. Uma lady.

[Morro de São Paulo, com Tissi. Delícia de viagem. Dá para ver meu aparelho transparente? Dá? Dá?]

Eu tinha um bilhão de dúvidas, um bilhão de idéias. Comecei a ter consciência de minha própria vida e a querer estipular os moldes de como eu gostaria de viver. "Isto me faz feliz, isto não me faz feliz". Eu todo dia achava que estava mais madura que no dia anterior, cheia de coisas borbulhando na cabeça. Uma verdadeira menina de 18 anos.

Não sei se sinto saudades ou se acho ótimo isto tudo ter passado.
Prefiro meus 26, prefiro muito, mesmo querendo ter feito tantas coisas diferentes neste espaço de tempo que me separa dos 18.

2 comentários:

  1. Êta mulher mais especial, Meu Deus.
    Fico aqui só admirando e admirando esta sua caminhada...

    Cada vez maior e mais iluminada!

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  2. Esse post hoje me serviu como várias sessões de terapia. Eita vida mutante a minha!! Beijo, Paulinha!!

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