2 de maio de 2007

Capão de botas

7 de setembro, no ano passado, caiu numa quinta-feira e foi aquela coisa: todo mundo enforcou a sexta e virou feriadão, ótimo para viajar. Rolou de o Capão nos chamar loucamente, a gente tinha de ir e pronto. Mas, dentre outros motivos menos importantes, uns amigos queridíssimos meus chegariam de Sampa no dia 8, e eu queria vê-los, iria ficar puta se eles passassem por Salvador e a gente não se visse. Então convenci Angelo e nós compramos a passagem para o sábado de manhã cedíssimo e voltaríamos no domingo, de noitão tardíssimo. Só a gente mesmo para topar ir para o Capão num dia e voltar no outro. Enfim. Conseguimos reservar duas camas num quarto de albergue, tudo certo.

Dany, Paty e Marreco, meus troços do meu coração, resolveram embarcar na parada. Estava todo mundo sem grana e calhou perfeitamente: para ir num dia e voltar no outro, o gasto seria pequeno e eles aturariam nem dormir, caso não arranjassem onde se encostar. Eles prepararam tudo: fizeram mercadão com cheque ultra-pré-datado, com tudo que era necessário para a viagem, para a fome e para a bebedeira, separaram isopor, colchão, travesseiro, o escambau.

Na sexta à noite, enquanto Dany, Paty e Marreco arrumavam o carro e o transformavam num quarto de hotel de luxo, eu e Angelo saímos com os amigos de Sampa - isso depois de eu ter passado o dia inteiro com eles, das dez da manhã às oito da noite, mostrando a cidade, de Itapuã a Bonfim, parando em todos os pontos clássicos. Os levamos ao Póstudo (amigo meu que vem conhecer meu mundo tem de conhecer o Póstudo) e, papo vai, papo vem, desce cerveja sem fim, oito mil rodadas de miolo de macaco, rosca, aquela farra. Como sempre acontece (e eu nem sei como eu volto ao Póstudo se reclamo tanto do atendimento de lá), fomos interrompidos pela conta sendo posta em cima da mesa, sem ninguém pedir. O bar fechou, fomos expulsos e, claro, eu queria mais: vamos pra onde?, vamos pra onde?

Ninguém se animou, os paulistas estavam exaustos, Angelo só falava do ônibus que sairia às seis da manhã. Ok. Deixei os meninos no hotel e avisei a Angelo, toda querendo mais: "Se formos para casa, teremos duas horas de sono e você sabe que eu não vou conseguir levantar, é melhor a gente dar virote e ir direto, vamos beber mais em algum canto, vai ser ótimo porque vamos dormir a viagem inteira". Ele discordou. E se comprometeu a me arrancar da cama - um trabalho e tanto. "Ok", eu disse, "então vou dormir, você quem sabe, vai dar merda isso...".

E deu. Quando abri o olho uma hora lá de manhã por sentir que algo estava estranho, Angelo estava me olhando com cara de "fudeu". Já ia dar oito horas. Merda!! Eu sabia!!!

Liguei correndo para Dany, sem muita esperança porque eles tinham dito que sairiam antes do amanhecer. "Amiga, você já está na estrada??". E, eba, eles também tinham dormido mais do que pretendiam e estavam de saída àquela hora. E eu: "Dany, pelamordedeus, perdemos o ônibus, podemos ir com vocês?".

Ela foi reticente: "Te ligo daqui a pouco, pode ser? Vou falar com Paty e Marreco". Depois que ela retornou a ligação, disse: "Amiga, falei com eles, não dá. O carro está todo montado, cada coisa em seu canto, passamos horas encaixando tudo para caber, estamos cheios de coisa, não tem espaço mesmo, impossível". Ok, fazer o quê? Quase choro, mas o jeito era me conformar. Então Marreco me ligou: "Nada disso, a gente tira o que for preciso do carro, me dê dez minutos, vou rearrumar tudo". Aí, confirmada a possibilidade de enfiar eu e Angelo no Fiesta de Paty, Dany avisou: "Mas tem o seguinte: não dá para levar mala, nem mochila, não cabe. Traga uma sacolinha de mão com o que for indispensável. E rápido, estamos chegando aí".

Eu e Angelo corremos: abrimos a nossa linda malinha toda arrumadinha, arrancamos uma camiseta e uma bermuda cada um, calcinha e cueca, escova de dente e uma toalha. Vestimos calça, que era mais complicado de levar e que poderíamos querer na noite fria do Capão, e amarramos casaco na cintura. Sapato, só o do pé. Enfiei minha bota. Vamos nessa.

Foi um dos melhores fins de semana de minha vida. Mesmo fazendo a trilha da Fumaça com bota de cano alto, mesmo sem shampoo, mesmo com o aperto do carro, mesmo dormindo de calça jeans com uma mulher doida pelada no quarto do albergue. Foi indescritível. Maravilhoso.

Ah! Também fiquei feliz por ter lembrado de levar o sutiã, porque pude tomar banho na trilha sem criar qualquer tipo de escândalo.



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Fotitas, fotitas, fotitas:

















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